Domingo
Abriu os olhos antes do despertador e se arrastou até o banheiro. Evitou o olhar do espelho, ganhou um pouco de vida após o banho. Começava a se vestir quando o sino da igreja denunciou o silêncio. Hoje não teria o trabalho para se entorpecer.
Foi à janela. O sol se espreguiçava, dourando o azul sem nuvens; o mar trovejava. No canto da moldura um bando entra em cena. Voavam a trabalho, guiados por instintos ancestrais, sem domingo. Invejou-os.
No centro da tela, o líder fez um mergulho decidido e pousou próximo a arrebentação. Meia dúzia de aves negras enormes de pescoços longos se enfileiraram. “Lugar estranho para pescar”, não entendeu.
Duas ou três se arriscam na primeira onda; em poucos minutos o esquadrão inteiro está surfando. Não são principiantes, sabem usar a potência da água com a mesma elegância do voo. Alcançam a areia sem esforço e retornam. Durante o percurso, trocam olhares e grasnados eufóricos. Alegrou-se.
Após meia-hora de ondas, nova ordem é dada. Aceleram o passo sobre a espuma, alongam a potente envergadura, ganham sustentação e decolam. Abastecidos e prontos para seguirem a viagem, os cisnes negros desaparecem da lousa, deixando a tarefa do aluno.
É tudo verdade. Veja o vídeo.

A isso dá-se o nome de prosa poética. Moisés escreve com a naturalidade de voo de pássaro. Muito bom, Moisés. Você está voando!
ResponderExcluirA cena fica visível como um filme. Com predomínio dos tons de azul...
ResponderExcluirEsplêndido. A cena é totalmente visualizada em sua prosa poética! Sempre muito bons os seus escritos.
ResponderExcluirMoisés em suas cores , mostra a natureza e seus frescores.
ResponderExcluirPalmas para suas cenas escritas.