Domingo


 

Abriu os olhos antes do despertador e se arrastou até o banheiro. Evitou o olhar do espelho, ganhou um pouco de vida após o banho. Começava a se vestir quando o sino da igreja denunciou o silêncio. Hoje não teria o trabalho para se entorpecer.

Foi à janela. O sol se espreguiçava, dourando o azul sem nuvens; o mar trovejava. No canto da moldura um bando entra em cena. Voavam a trabalho, guiados por instintos ancestrais, sem domingo. Invejou-os.

No centro da tela, o líder fez um mergulho decidido e pousou próximo a arrebentação. Meia dúzia de aves negras enormes de pescoços longos se enfileiraram. “Lugar estranho para pescar”, não entendeu.

Duas ou três se arriscam na primeira onda; em poucos minutos o esquadrão inteiro está surfando. Não são principiantes, sabem usar a potência da água com a mesma elegância do voo. Alcançam a areia sem esforço e retornam. Durante o percurso, trocam olhares e grasnados eufóricos. Alegrou-se.

Após meia-hora de ondas, nova ordem é dada. Aceleram o passo sobre a espuma, alongam a potente envergadura, ganham sustentação e decolam. Abastecidos e prontos para seguirem a viagem, os cisnes negros desaparecem da lousa, deixando a tarefa do aluno.



É tudo verdade. Veja o vídeo.

    https://youtu.be/bsiqdl6vsGQ 

Comentários

  1. A isso dá-se o nome de prosa poética. Moisés escreve com a naturalidade de voo de pássaro. Muito bom, Moisés. Você está voando!

    ResponderExcluir
  2. A cena fica visível como um filme. Com predomínio dos tons de azul...

    ResponderExcluir
  3. Esplêndido. A cena é totalmente visualizada em sua prosa poética! Sempre muito bons os seus escritos.

    ResponderExcluir
  4. Moisés em suas cores , mostra a natureza e seus frescores.
    Palmas para suas cenas escritas.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Por quê?

Relíquia

Cinzas acesas