Albert Camus 1913-1960

 


De todas as escolas de paciência e lucidez, a criação é a mais eficaz.

Esse coração que há em mim, posso sentí-lo e sei que ele existe. O mundo, posso tocá-lo e também julgo que ele existe. Aí se detém toda minha ciência. O resto é construção.

Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro.

O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites.

O homem é a criatura que, para afirmar o seu ser e a sua diferença, nega.

Não é nenhuma vergonha ser-se feliz; vergonhoso é ser feliz sozinho.

Antes, a questão era descobrir se a vida precisava ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado.

O homem não é nada em si mesmo. Não passa de uma probabilidade infinita. Mas ele é o responsável infinito dessa probabilidade.

A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente.

E no meio de um inverno eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível.

O Homem é a única criatura que se recusa a ser o que é.

É-nos impossível saber com segurança se Deus existe ou não existe. Por isso, só nos resta apostar. Se apostarmos que Deus não existe e ele existir, adeus vida eterna, Alô, danação! Se apostarmos que Deus existe e ele não existir, não faz a menor diferença, ficamos num zero a zero metafísico.

Charme é um meio de obter um sim sem fazer uma pergunta clara.

Por que sou um artista e não um filósofo? É que penso segundo as palavras e não segundo as idéias.

Mas os meus escritos são as minhas horas de felicidade. Mesmo naquilo que eles tiverem de cruel. Preciso escrever assim como preciso de respirar, porque o corpo me exige.

Outono é outra primavera, cada folha uma flor.

Os tristes têm duas razões para o ser: ignoram ou esperam.

Não há grandes dores, nem grandes arrependimentos, nem grandes recordações. Tudo se esquece, até mesmo os grandes amores. É o que há de triste e ao mesmo tempo de exaltante na vida. Há apenas uma certa maneira de ver as coisas, e ela surge de vez em quando. É por isso que, apesar de tudo, é bom ter tido um grande amor, uma paixão infeliz na vida. Isso constitui pelo menos um álibi para os desesperos sem razão que se apoderam de nós.

Mesmo sentado em um banco dos réus é sempre interessante ouvir falar da gente.

Amo ou venero poucas pessoas. Por todo o resto, tenho vergonha de minha indiferença. Mas aqueles que amo, nada jamais conseguirá fazer com que eu deixe de amá-los, nem eu próprio e principalmente nem eles mesmos.

Da mesma forma que é necessário, em arte, saber parar, pois chega sempre um momento em que uma escultura não deve ser mais tocada, e que, para isso, a vontade da inteligência serve melhor ao artista do que os mais amplos recursos da clarividência, assim também é necessário um mínimo de inteligência para se conseguir uma existência feliz. E quem não a tiver, tem que conquistá-la.

O erro é acreditar que é preciso escolher, que é preciso fazer aquilo que se quer, e que, para ser feliz, existem condições. A única coisa que conta é a vontade de felicidade, uma espécie de enorme consciência, sempre presente. O resto, mulheres, obras de arte ou sucessos mundanos, são apenas pretextos. É uma tela em branco que aguarda nossos bordados.

Nada no mundo vale que nos afastemos daquilo que amamos. E, contudo, também eu me afasto, sem que possa saber porquê.

Eu não creio na sua ressurreição, mas não ocultarei a emoção que sinto diante de Cristo e dos seus ensinamentos. Perante Ele e a sua história não experimento senão respeito e reverência.

Da caixa de Pandora, na qual fervilhavam os males da humanidade, os gregos fizeram sair a esperança em último lugar, por considerá-la o mais terrível de todos. Não conheço símbolo algum mais emocionante do que este.

E nunca me senti tão profundo e ao mesmo tempo, tão alheio de mim e tão presente no mundo.

A característica do homem absurdo é não acreditar no sentido profundo das coisas. Ele percorre, armazena e queima os rostos calorosos ou maravilhados. O tempo caminha com ele. O homem absurdo é aquele que não se separa do tempo.

Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida é responder uma questão fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem depois.

A miséria é uma fortaleza sem ponte levadiça.

Mas no final é preciso mais coragem para viver do que se matar.

O propósito de um escritor é impedir que a civilização se destrua.

Para sermos felizes, não devemos estar muito preocupados com os outros.

A fim de compreender o mundo, você tem de se afastar dele ocasionalmente.

A luta para fazer a pedra chegar a seu cume, basta para encher o coração de um homem.

A ausência de Deus, deixando o homem responsável por si mesmo, o condena a se revoltar. Do absurdo a revolta.

Uma imprensa livre pode, é claro, ser boa ou ruim, mas, certamente sem liberdade, a imprensa sempre será ruim.

Não é, pois, necessário precisar a maneira como se ama entre nós. Os homens e as mulheres ou se devoram rapidamente no chamado acto do amor, ou se entregam a um longo hábito entre dois. Também isso não é original. (...) por falta de tempo e de reflexão, é-se obrigado a amar sem o saber.

Não sei se este mundo tem um sentido que o ultrapassa. Mas sei que não conheço esse sentido e que por ora me é impossível conhecê-lo.

E está justamente aí o gênio: a inteligência que conhece suas fronteiras.

O homem cotidiano não gosta de demorar. Pelo contrário, tudo o apressa. Ao mesmo tempo, porém, nada lhe interessa além de si mesmo, principalmente aquilo que poderia ser.

Para um homem que não trapaceia, o que ele acredita ser verdadeiro deve determinar sua ação.

Num certo sentido, pode dizer-se que a sua vida era exemplar. Era desses homens que têm sempre a coragem dos bons sentimentos.

Olhou para a mãe. O seu belo olhar castanho fez subir nele uma onda de ternura.
-Tens medo, mãe?
- Na minha idade, já se tem medo de pouca coisa.

O homem não é inteiramente culpado, não foi ele que começou a história; nem
completamente inocente, já que ele a continua.

Na sua cara um pouco assimétrica, eu não via senão os olhos, muito claros, que me examinavam atentamente, sem nada exprimir de definido. E sentia a estranha impressão de estar a ser examinado, não pelo que parecia mas pelo que era realmente.

Compreendia muito bem que as pessoas me esquecessem depois da minha morte. Já não tinham nada a fazer comigo. Nem sequer podia dizer que me custava pensar em semelhante possibilidade. Não há, no fundo, nenhuma ideia a que não nos habituemos.

⁠Se não se acredita em nada, se nada faz sentido e se não podemos afirmar nenhum valor, tudo é possível e nada tem importância.

Não é necessário existir Deus para criar a culpabilidade, nem para castigar. Para isso, bastam os nossos semelhantes, ajudados por nós mesmos.

E se nós, Netzschianos, niilistas e membros do realismo histórico Engel-Marxista , reconhecessemos que estivemos errados esse tempo todo e os valores morais devem ser buscados e ilustrados? 

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