Rondó da riqueza

 “levanta-te! põe a roupa e o cinto”
estuda inova arrisca e trabalha
venda toda a colheita e amealha
reúna amigos música e o vinho

para quê frascos de perfumes caros
com os aromas mais exóticos e raros
se tuas palavras não entregam flores
e os teus gestos só exalam temores

para quê tantos relógios de luxo
se é você quem corre em círculos
perdido pelo absurdo desse circo
sem entender o ritmo e o fluxo

para que embarcas em longas viagens
se não sabes que para ver as miragens
é preciso se estranhar e despir a alma
das máscaras que espantam a calma

para quê o pijama de seda pura
e o macio travesseiro de plumas
se teu sono é medicado e inútil
porque rejeita tua existência fútil

para que serve teu lindo castelo
se não há um lar no teu endereço
se moras entre o lucro e o preço
açoitando-se com o próprio flagelo

de nada adianta teu carro veloz
se a angústia já sabe onde vais
e lá estará para lhe roubar a paz
não há fuga. é você o teu algoz

riqueza é se preencher de vazio
e bailar pelo salão da incerteza
com elegância estilo e firmeza

                                           12/11/2020