Leminski!



              "Seu nome já é alguma coisa. Gostoso de citar, uma interjeição ou quase. Leminski! Como abracadabra."              
                                                   Suzana Berlim


Quem foi Paulo Lemisnki?

O garoto que descobriu ser poeta aos sete anos ou o bandido que sabia latim?

O judoca faixa preta, filho de militar ou o mestiço parceiro dos Novos Baianos no Solar da Fossa?

O carismático boêmio sem limites ou o pai de família amoroso e preocupado?

Leminski foi esses todos. Viveu suas vidas com fome e pressa. Seus sonhos eram dirigidos por cineastas americanos. Aprendeu hebraico para ler a bíblia e japonês para entender o zen budismo. Escreveu biografias e investigou o sucesso de Jesus, o idealismo de Trotsky e a graça leve do Haicai.

Foi vanguardista, concretista, tropicalista, marginal e Leminski. No Rio de Janeiro, musicou seus poemas enquanto distribuía versos para as canções da MPB. De Ney Matogrosso a Caetano, de Itamar Assunção a Moraes Moreira, todos queriam beber da fonte do poeta que encarnava o espírito do seu tempo.

Na volta a Curitiba, manteve a casa e o coração sem portas. O polacolocopaca adoçou de poesia as ruas da sua cidade madrasta. Caneta, guardanapo, óculos e bigodes atentos, vinte quatro horas por dia, e um pouco mais.

Paulo Leminski foi, antes e acima de tudo, um poeta. Usou os idiomas, o judô, a música, a vodca e os sonhos para equipar sua linguagem. Sonhava poder dizer tudo em forma de poesia. Inventou, então, uma nova forma de escrever.

O rigor desleixado e a anarquia calculada de suas poesias curtas desconstroem e revelam brincando; desautomatizam trocadilhos e ditados populares num “golpe único e perfeito, sem hesitar diante da intuição”, como um mestre de arte marcial, como um Zico.

Aos quarenta e quatro anos Leminski “partiu da embriaguez de viver, para o sonho de outras esferas”. Sofrer foi a obra que fez questão de viver até o fim. Feriu-se de morte com a própria espada, feito um samurai de bigodes longos que decide a sua hora.

            “Criar beleza com linguagem é inato, é um erro de programação genética”. Quando um poeta morre antes da hora, leva com ele o dicionário do seu tempo. Leminski deixou pelo menos três gerações órfãs de seus versos. A inutilidade dos poetas é imprescindível. 

                                                                                                                           18/11/2020

 

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