Xiripiti


Sob um fundo musical que alternava Elvis, Sinatra, risos de crianças correndo, Sinatra e Elvis, eram servidas fartas quantidades de cerveja, whisky e vinho acompanhando acepipes diversos e pratos temáticos como dobradinha, jambalaya e cassoulet de fava. 
         As efemérides na casa de Venâncio Pinto eram famosas. Os eventos seguiam um protocolo rigoroso, quase um ritual, como os tempos de uma cirurgia.
        O
 ritmo inicial da festa era conduzido pela fiel cozinheira de Venâncio. Cida resistiu a três casamentos do patrão. Os amigos mais próximos diziam que ela era a única mulher que ele não podia perder. 
       Após duas a três horas de libação, a sobremesa e os liquores eram servidos. Quando os convidados de primeira vez pensavam que o momento de ir embora se avizinhava e que a compostura havia sido preservada, o anfitrião anunciava:
     – Hora d
o xiripiti!
Garrafas geladas de variados destilados e pequenos copos eram espalhados sobre a mesa para dar início à degustação.
       Venâncio assegurava que a melhor prevenção para a ressaca do dia seguinte era terminar a tertúlia com alguns poucos golos de vodca, cognac, bourbon e ou cachaça de boa qualidade. O problema é que esses golos nunca foram poucos e que os seus efeitos eram devastadores.
        Após a extravagância final, seguiam-se pelo menos dois dias de cefaleia e de total incapacidade para realizar as tarefas mais simples; sem contar o embaraço pela lembrança de cenas de choro, danças ousadas e abraços intermináveis.
       O almoço se estendia até a hora do jantar com a chegada de pizzas e com os infalíveis vídeos de "My way" nas versões interpretadas por Elvis e Sinatra.
       O fato é que todos que experimentaram as delícias e as sequelas que esses encontros proporcionavam, nunca titubearam ao aceitar um novo convite do meu velho amigo Venâncio Pinto.



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