Parece gente


 

tem mão braço e osso

pestana cintura e corpo

é brilho é alegria

é alma saindo pela boca


nasceu perto do Porto

um filho que não cresce

a família encontrou enfim

o timbre que faltava


o frágil menino

empenava na quentura

e trincava na secura

parecia gente

 

de Lisboa à Madeira  

de braguinha a okulele

foi rei no Havaí

é príncipe no Brasil

 

valente no ataque

carente de sustentação

acompanhar era a sina

até Waldir pôr sua mão

 

as altas notas breves

alegraram o choro

cadenciaram o samba

até um baião delicado

 

ré   sol   si   ré

staccatos trinados

pzzicatos trêmulos

gliçando vibratos

  

técnica treinos calos

percussão de cordas

acordos de tempos

ritmo sem baixaria


canhotos jonas jacarés 

sapos kazes márcios 

benons williams nelsons

a arte navega pelos dedos


um violão de sete

um pandeiro sério

um sopro e Ele

está feita a roda

 

madeiras aço e carne

lapidando o ar

esculpindo o som 


é arte

é cavaquinho

é mais que gente

                                 21/07/2019




Comentários

  1. Moisés, que linda poesia! Emocionou ver o cavaquinho descrito com tanta beleza e cuidado! Mais emocionado ainda por me ver dentro dessa linda obra! Muito obrigado Moisés! Eu irei imprimir e pendurar aqui em casa! Posso?💚🎶

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    1. Pode e deve, professor. É uma honra para mim. Muito obrigado. O trabalho de vocês é maravilhoso. Fico feliz em participar como posso.

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  2. Moi, como ficou perfeito a combinação da anatomia com a alma do seu instrumento preferido. Você dá vida ao inanimado. Um grande abraço do amigo Carlinhos.

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  3. Gostei demais, Moisés! Grande homenagem ao cavaquinho, por quem sofre nos dedos a formação dos calos!

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